Fenômeno não muito raro no mercado financeiro, a super-quarta, dia em que acontecem coincidentemente as reuniões do Banco Central Americano (FED) e do Comitê de Política Monetária do Banco Central Brasileiro (COPOM), do dia 04 de Maio de 2022, trouxe um certo alívio momentâneo para o mercado de renda variável, assim como para as preocupações com os efeitos da inflação mais duradoura no Brasil e nos EUA.
O Presidente do FED Jerome Powell, sinalizou que não pretende subir juros em um ritmo tão acelerado quanto o mercado está precificando, fato que acalmou momentaneamente investidores que davam como certo um aumento de 0,75 p.p. já para a próxima reunião em Junho e enfatizou que, no momento, os membros do FED acreditam que altas de 0,50 p.p por reunião, assim como já aconteceu ontem, possam ajudar a convergir a inflação para a meta sem prejudicar a economia americana, que continua aquecida e em pleno emprego.
O mau humor dos investidores em relação ao aumento mais rápido dos juros é justamente pelo receio de que caso isso aconteça, a economia desacelere. Powell deixou claro que fará o necessário para frear a inflação, porém sem deixar de se atentar ao custo que isso pode trazer ao PIB dos EUA.
Já do lado Brasileiro, apesar de o mercado já ter precificado a alta de ontem que elevou a SELIC para 12,75%, as atenções ficaram voltadas à sinalização dos próximos movimentos do COPOM. Hoje, estima-se que na próxima reunião da autoridade monetária teremos um novo aumento, dessa vez de 0,50 p.p contra o aumento de 1,00 p.p., e é aí que começam as discordâncias.
Muitos economistas defendem que o BC (Banco Central) precisará trabalhar com uma taxa de juros ainda mais alta para conter a inflação, que diferente do que acontece nos Estados Unidos, sofre a pressão da paridade dólar-real e a dependência de matéria prima industrial vindo de fora do país. Com os novos cenários de possíveis lockdowns na China por uma nova onda de COVID-19 e a guerra entre Rússia e Ucrânia, que afeta diretamente a compra de fertilizantes russos por parte de produtores rurais brasileiros, muitos temem uma inflação mais duradoura e difícil de controlar por aqui. Além disso, uma SELIC mais alta por mais tempo desestimula investimentos de empresas, geração de empregos e crédito. Com uma economia que está longe de mostrar força como a americana, o BC iniciou muito antes que o restante do mundo a subida de juros na tentativa de conter a inflação, fato que também divide opiniões.
Os dados econômicos das próximas semanas serão cruciais para que as decisões dessas autoridades sejam tomadas a fim de conter as pressões sobre os preços, que diminui o poder de compra da população e ao mesmo tempo não prejudiquem uma recuperação econômica, que parece já estar em vigor nos EUA, mas que ainda se mostra muito frágil no Brasil.
Texto por Filipe Franco Ferreira
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