Muitas pessoas se questionam ou perguntam se é a hora certa de comprar Dólar ou se é o melhor momento para investir com uma exposição cambial diferente do país onde vive. Mas a grande verdade é que não existe a hora certa, ou o melhor momento para se expor em outra moeda. Tratando-se de câmbio precisamos avaliar diversas variáveis em paralelo, e de diferentes países. Como por exemplo: o diferencial de juros entre dois países; inflação; balança comercial (exportação e importação); investimentos em infraestrutura; políticas monetárias e fiscais, entre muitas outras variáveis. Ou seja, é uma grande falácia dizer que é a hora certa ou o melhor momento pois a variação cambial está exposta a ”N” variáveis que mudam constantemente diante da globalização em que viemos na atualidade. Portanto, a pergunta correta seria: Levando em consideração o meu objetivo XYZ seria um momento adequado? Ou, como posso me proteger da alta do Dólar que desfavorece a minha empresa?

Pois bem, para quem não conhece câmbio precisamos pautar que câmbio em suma é uma conversão de moedas, ou seja, você está convertendo Real em Dólar por exemplo. Por meio dessas conversões é possível proteger da variação de outra moeda, pagar um fornecedor de outro país, receber salário ou até mesmo converter pensando em investimentos internacionais, entre muitos outros fins que podem atender o teu objetivo.

 Atualmente vivemos em um contexto de inflação alta ao redor do mundo, que pode ser explicada brevemente por dois fatores. Primeiro, um choque entre a oferta e a demanda durante o início da pandemia do COVID 19 que afetou toda a cadeia de suprimentos. E por consequência, uma injeção de dinheiro por parte dos governos para que a economia sobrevivesse ao lockdown, até então sem precedentes. Esses dois fatores acarretaram uma inflação recorde não só nos países menos desenvolvidos, ou países emergentes, mas principalmente nos países desenvolvidos que estão sentindo na pele uma inflação de dois dígitos que não acontecia em mais de 40 anos. No caso dos Estados Unidos, os juros estavam no patamar de 0 a 0,25% ao ano. Na Europa, os juros estavam negativos em 0,5% ao ano, ou seja, você pagaria 0,5% ao ano para que o seu dinheiro estivesse sob custódia de algum banco. Logo, aquele patamar de juros que em 2019 tinha o objetivo de fomentar a economia global que já mostrava sinais de desaceleração, virou em 2022 um grande vilão. Dito isso, os governos precisaram aumentar os juros para combater a inflação, não obstante, entre negligência e endividamento não puderam subir juros rapidamente para não causar uma grande recessão.

Entre a cruz e a espada, os governos tiveram que primeiro aliviar os estímulos monetários, e posteriormente começaram a subir juros, alguns a primeira vez em mais de 10 anos. Mas esse movimento foi tardio e trouxe consigo consequências que começaram a ser visíveis por grande parte da população mundial. Além disso, fatos extraordinários passaram a ser frequentes.

Tal movimento de alta dos juros favorece as economias mais desenvolvidas, pois o retorno de investir em títulos de renda fixa, usualmente conhecidos por ter menos risco, aumentou consideravelmente o que por consequência atrai dinheiro de outros países, fortalecendo assim a moeda daquele país desenvolvido.

Um exemplo prático: os juros dos Estados Unidos saíram de 0,25% no início deste ano para 3,25% com projeção de ir a 4% na próxima reunião do banco central americano (FED). Logo, mais investidores vão buscar estes retornos na maior economia do mundo, e se sai dólar do Brasil e entra nos Estados Unidos, por consequência, o Real se desvaloriza frente ao Dólar.

Dentre diversos fatores, o que mais corroborou para a desvalorização do Real durante os dois primeiros anos da pandemia foi a grande contradição entre uma taxa Selic no menor patamar da história do país (2% a.a.) em relação a precária saúde fiscal brasileira, o que levou o Real a segunda pior performance do mundo, apenas atrás da Turquia. Nos últimos 36 meses, o Real desvalorizou aproximadamente 25% frente ao Dólar.

Entretanto, o Banco Central do Brasil em março de 2021 foi o primeiro do mundo a começar a subir juros, 18 meses antes dos Estados Unidos iniciarem o movimento. Tal medida ainda passa despercebido para a maioria dos brasileiros, mas este fator foi o responsável por levar o Real a melhor performance entre os países emergentes, e a 8ª melhor do mundo, frente ao dólar do início de 2022 até este momento. Não atoa o presidente do Banco Central Brasileiro, Roberto Campos Neto, foi eleito o melhor banqueiro a combater os efeitos da pandemia em 2021 pela revista inglesa The Banker, e em 2022 pela Latin Finance Banks.

Neste momento também podemos observar a história se repetir com alguns eventos extraordinários passarem diante de nossos olhos. Por exemplo, a primeira vez desde 2002 que o Euro tem paridade 1 para 1 frente ao Dólar. A Libra Esterlina que atingiu seu pior patamar desde 1985 (1,08 dólares). O Peso Argentino se desvalorizou 58% frente ao Dólar desde o início da pandemia em março de 2020.

Dito isso podemos perceber o DXY (o Dólar contra uma cesta de moedas ao redor do globo) nos patamares de máxima histórica, um reflexo do Dólar ganhando força frente ao mundo diante do aumento de juros.

Também podemos perceber o estado crítico que a zona do Euro se encontra. Que pode ser explicado em partes pela inflação global, guerra entre Rússia e Ucrânia, crise energética e alimentar como consequências desta guerra, mas também pode ser explicado por questões mais intrínsecas ao velho continente como a inversão da pirâmide etária, falta de mão de obra qualificada, juros a patamares negativos como forma de fomentar a economia, países com diferentes grades tributárias e endividamentos. Todas essas questões levaram o Euro a se desvalorizar 15,3% em relação ao Dólar nos últimos 12 meses.

Portanto, atenção quanto as máximas deste mercado. O momento adequado varia de acordo com o teu objetivo, além das demais variáveis expostas neste texto. Assim como todas as áreas, vale consultar um profissional que possa respaldar a melhor forma de atingir o objetivo pré-estabelecido diante do cenário macroeconômico em que estivermos passando.

Gabriel Famá, Assessor de Investimentos

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